Genealogia Paulistana

Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919)

Vol IX - Pág. .03 a 27


Tit. Rendons


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Segundo escreveu Pedro Taques, a ilustre família de Rendons, Quebedos, Lunas, Alarcões, Cabeças de Vaca (que por varonia são Sarmentos) da capitania de S. Paulo e da de S. Sebastião do Rio de Janeiro, traz a sua propagação da cidade de Coria no reino de Leão em Espanha, de onde eram naturais os Rendons, f.ºs do fidalgo dom Pedro Matheus Rendon, que foi regedor das justiças na vila de Ocanha, e de Magdalena Clemente de Alarcão Cabeça de Vaca, que se passaram ao Brasil seguindo o real serviço na armada que veio a Bahia de Todos os Santos com o general dela dom Fradique de Toledo Ozorio, marquês de Uvaldeça em 1625, para libertar a Bahia então em poder dos holandeses. Os Rendons que nessa armada de Castela vieram com outros fidalgos, para o feito mencionado, foram 3, aos quais se reuniu mais tarde em 1640 um 4º irmão, que foi dom José Rendon. Efetivamente libertaram a Bahia, e acabada a guerra ficaram no real serviço, e passaram a S. Paulo, e foram eles:

N.º 1 Dom João Matheus Rendon de Quebedo

N.º 2 Dom Francisco Rendon de Quebedo

N.º 3 Dom José Rendon de Quebedo

N.º 4 Dom Pedro Matheus Rendon Cabeça de Vaca
 
 

N.º 1

Dom João Matheus Rendon da Bahia veio fazer assento na cidade de S. Paulo, onde casou 1.ª vez em 1631 com Maria Bueno de Ribeiro, f.ª do capitão-mor Amador Bueno, o aclamado, e de Bernarda Luiz, V. 1.º pág. 431; 2.ª vez casou em 1653 com Catharina de Góes, viúva do capitão Valentim Pedroso de Barros, V. 3.º pág. 444; sem geração desta, porém teve pelo inventário da 1.ª em 1646 (C. O. de S. Paulo):

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Cap. 1.º Dom Pedro Matheus Rendon e Luna

Cap. 2.º Dom João Matheus Rendon

Cap. 3.º Ignez de Ribeira

Cap. 4.º Dom José Rendon

Cap. 5.º Anna de Alarcão e Luna
 
 

Cap. 1.º

Dom Pedro Matheus Rendon e Luna casou-se em São Paulo com Maria Moreira Cabral, f.ª de Luiz da Costa Cabral e de Luiza Moreira, V. 7.º pág. 429. Teve os 6 f.ºs seguintes:

1-1 Dom João Matheus Rendon § 1.º

1-2 Dom Pedro Matheus Rendon § 2.º

1-3 Dom José Rendon de Quebedo § 3.º

1-4 Dom Luiz Rendon de Quebedo § 4.º

1-5 Dom Francisco Matheus Rendon § 5.º

1-6 Maria Cabral Rendon § 6.º
 
 

§ 1.º

1-1 Dom João Matheus Rendon faleceu solteiro nas minas de Paranaguá.
 
 

§ 2.º

1-2 Dom Pedro Matheus Rendon, diz Pedro Taques, faleceu solteiro nas Minas Gerais na ocasião do levantamento dos europeus contra os paulistas; entretanto, encontramos um deste nome natural da Ilha Grande, f.º de Dom Pedro Rendon e de Anna Maria Cabral, casado em 1686 em Itu com Anna Rodrigues de Arzam, f.ª do capitão-mor Cornelio Rodrigues de Arzam e de Catharina Gomes. Não será este § 2.º, pressupondo um engano de lançamento no nome da mãe?
 
 

§ 3.º

1-3 Dom José Rendon de Quebedo, com seu irmão o § 4.º seguinte, seguiu o real serviço, saindo de S. Paulo em 1679 com o governador Dom Manoel Lobo, que foi fundar na ilha de S. Gabriel do Rio da Prata um fortaleza e nova colônia, a que deu o nome de cidade do Sacramento. A respeito escreveu Pedro Taques:

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"Para esta ação saiu de Lisboa dom Manoel Lobo com patente de governador e capitão general do Rio de Janeiro, com ordem de que, logo que tomasse posse do dito governo, passasse ao Rio da Prata a formar as fortificações necessárias de uma nova colônia por carta datada de 12 no Novembro de 1678 em Lisboa. Subiu a S. Paulo a tratar a matéria de sua comissão com os paulistas Fernão Paes de Barros e Fernando Dias Paes Leme, para os quais trazia cartas do príncipe regente o senhor dom Pedro para darem toda a ajuda e socorro a dom Manoel Lobo, para se conseguir a pretensão, a que vinha dirigido: assim se vê das cartas do mesmo teor escritas a Fernão Paes de Barros e Fernando Dias Paes Leme.

Chegando a S. Paulo o fidalgo dom Manoel Lobo foi hospedado com grandeza e abundância por Fernão Paes de Barros todo o tempo que precisou demorar-se, dispondo o necessário para a viagem, que tinha de fazer para a ilha de S. Gabriel. Deu-lhe em dinheiro cem mil reis e três cavalos dos melhores que tinha em sua cavalherice; e, porque no almoxarifado da praça de Santos não havia dinheiro para suprir as despesas que tinha que fazer dom Manoel Lobo, apareceu no senado da câmara de S. Paulo Fernão Paes de Barros, e representou aos oficiais dela que para o serviço de sua alteza tinha quarenta arrobas de prata nas baixelas de sua copa, que todas oferecia para que ou se fundissem, ou se empenhassem, ou se vendessem, com tanto que se efetuasse o real serviço de que vinha encarregado o governador dom Manoel Lobo. (Livro de vereança de S. Paulo, ano de 1679).

Dom Manoel Lobo retirou-se de S. Paulo a embarcar-se no porto de Santos para a cidade de Rio de Janeiro, levando em sua companhia como soldados aventureiros aos dois irmãos dom José e dom Luiz Rendon de Quebedo, os quais em companhia do mesmo dom Manoel Lobo, embarcaram no Rio de Janeiro a demandar a ilha de S. Gabriel, onde chegaram a salvamento com o corpo militar de infantaria do presídio daquela praça, e da que veio da Bahia com todos os petrechos de guerra e artilharia grossa, capaz de cavalgar nas carretas da nova fortaleza, que iam fazer construir.

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Elegeu dom Manoel Lobo o sitio, e nele fundou a cidade de Nova Colônia do Sacramento e a sua fortaleza, de onde escreveu aos oficiais da câmara de S. Paulo em Fevereiro de 1680, pedindo mantimentos de carnes de porco e trezentos alqueires de feijão, e que tudo mandariam entregar no porto de Santos a Diogo Pinto de rego capitão-mor governador da capitania de S. Vicente, a quem escreveria para fazer prontificar embarcação que conduzisse estes gêneros para o Rio da Prata. Enviou por agente desta expedição a João Martins Claro, a quem Fernão Pães de Barros, entregou 150 arrobas de carne de porco, mil alqueires de farinha de trigo e cem de feijão, sem mas interesse que a honra desta serventia.

Achava-se em S. Paulo o tenente de mestre de campo general Jorge Soares de Macedo, mandado por sua alteza para acompanhar para as minas de Paranaguá e para o sertão de Sabarabuçu ao administrador geral dom Rodrigo de Castel-Blanco, natural do reino de Castela, que da cidade da Bahia tinham vindo, trazendo uma companhia de sessenta soldados infantes da qual era capitão Manoel de Sousa Pereira e alferes Mauricio Pacheco Tavares; e se dispôs por determinação do dito administrador geral a passar ao Rio da Prata, e dali principiar a examinar todo o sertão da costa pelo interesse de descobrir minas de prata e ouro. Para este efeito preparou-se em S. Paulo de todo o necessário, elegendo ao paulista Braz Rodrigues de Arzam para capitão-mor de toda a gente da leva, de que lhe passou patente o dito tenente general em S. Paulo em 15 de Janeiro de 1679; ao paulista Antonio Affonso Vidal para sargento-mor da dita leva por patente com a mesma data; com outros muitos paulistas, que então seguiram este real serviço, como foram Manoel da Fonseca, Manoel da Costa Duarte, João Carvalho, João de Góes Raposo e seu irmão Manoel de Góes Raposo, Francisco Dias Velho e seu irmão José Dias Velho, além de outros, dos quais não descobrimos documento algum que nos declarasse quem eles foram, e com duzentos índios bons sertanistas. O tenente general Macedo tendo recebido dos oficiais da câmara de S. Paulo dinheiro, armamentos, gêneros alimentícios, etc., embarcou em fins de Março de 1679 em Santos com sete sumacas das quais era capitão de mar Manoel Fernandes por patente do mesmo Macedo, datada em Santos a 29 de Janeiro de 1679, levando nelas toda a gente de sua conduta, índios, fabricas minerais de sua alteza, fazendas, mantimentos e tudo o mais necessário.

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Teve três arribadas por contrários ventos e temporais grandes, que levaram ao fundo uma sumaca, sem escapar do naufrágio viva criatura, e três foram de arribada tomar o porto da ilha de Sta. Catharina; e Macedo com as outras três tomou a barra de Santos. Desta vila penetrou por terra a costa do Sul e pelo sertão chegou a ilha de Sta. Catharina. Estando nela recebeu ordem do governador dom Manoel Lobo para ali postar com a infantaria e mais gente de sua conduta aplicando-a à manobra de serrar madeiras e taboados, fazer cal de ostras e fazer carvão, para tudo servir na povoação da Nova Colônia: tudo fez assim executar o dito Macedo. Depois teve segunda ordem do mesmo governador dom Manoel Lobo para embarcar em uma sumaca, e nela ir para a ilha de S. Gabriel.

Embarcado o tenente-general Macedo com algumas pessoas de avultado nome deu velas a sumaca a demandar o Rio da Prata; porém na altura do cabo de Santa Maria, deu a embarcação à costa com uma grande tempestade. Salvou-se miraculosamente o dito tenente-general com 24 companheiros, cada um arrimado a sua tábua, perecendo todos os mais com tudo quanto ia na dita sumaca. Os náufragos que saíram a terra se puseram em marcha a demandar a Nova Colônia. Já por então haviam os jesuítas da missão de Yapejú despedido uma grande tropa de índios armados a ocupar o sertão da costa do Sul, assim como outra tropa de canoas que tinha ocupado a navegação do rio Paraná, pelo justo temor de que de S. Paulo, saía grande socorro a unir-se com dom Manoel Lobo; assim o declara o livro intitulado - Insignes Missioneros de la Compañia de Jesus en la Província del Paraguai Liv. 3º cap. 10.º; posto que é obra jesuíta, como se conhece do estilo dela e da acomodação dos textos sagrados ao seu intento e com o nome de dom Francisco Xarque de Andela. O tenente-general Jorge Soares de Macedo e seus 24 companheiros foram encontrados pela tropa destes índios que a todos aprisionaram e conduziram até a missão de Yapejú, da qual foram mandados para Buenos Aires, onde foram presos no cárcere da fortaleza com sentinelas à vista como consta da carta de patente do mesmo Jorge Soares, citada na margem retro, e entre eles o capitão-mor Braz Rodrigues de Arzam e o sargento-mor Antonio Affonso Vidal ambos paulistas.

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Tendo já o governador dom Manoel Lobo completa a obra da fortaleza da Nova Colônia e cidade do Sacramento teve dela noticias dom José de Garro, cavaleiro da ordem de S. Thiago, governador e capitão general da província de Buenos Aires, que por prevenção tinha pedido de socorros a Dom Filippe Rege Corbalan, governador da província do Paraguai, e ao tenente-general Martim de Garayar, que governava a cidade de Cordova. Por este tempo se achava na cidade de Salta Dom João Dias Andino governador da província de Tucuman; porém os avisos contra dom Manoel Lobo chegaram até ao vice rei do Peru, que então era o exm.º arcebispo de Lima doutor dom Melchior de Linhan. Escreveu também ao superior de todos os jesuítas das missões dos índios o padre Christovam Altamirano; e só a redução de Yapejú, que fica com rio Uruguai 20 léguas antes de Buenos Aires prontificou três mil e trezentos índios de armas, distribuídos em companhias de cem homens, dois mil cavalos em pelo, quinhentas mulas de carga para a condução do trem, e duzentos bois de carretas para puxarem a artilharia que o general Garro quisesse encaminhar com campo inimigo.

Estando pronto um pé de exército capaz de qualquer ação de batalha enviou Garro vários protestos ao governador dom Manoel Lobo, requerendo-lhe desamparasse o sítio que ocupava, por serem as terras dele de el-rei de Castela; e que lhe concederia todos os partidos que propusesse com tanto, que lhe evitasse o rompimento da guerra pelo que lhe oferecia todas as embarcações e víveres necessários para se restituir ao Rio de Janeiro: e que lhe mandaria entregar livres os prisioneiros que já se achavam na cidade de Buenos Aires com o tenente-general Jorge Soares de Macedo. Constante porém o valor de dom Manoel Lobo, se não deixou vencer do terror com que o castelhano lhe representava o seu direito e força de suas armas no corpo do exército com que o ameaçava.

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Desenganado o castelhano de que o português não cedia da constância do seu valor fez pôr em marcha o seu exército à disposição do mestre de campo dom Antonio de Vera Moxica, a cujo valor e perícia militar ficou Garro todas as operações da batalha. No dia 6 de agosto de 1680 se moveu o exército do campo inimigo pela forma seguinte: quatro mil cavalos em pelo sem serem montados de pessoas alguma vinham adiante em um só corpo montuoso; logo atrás três mil índios de armas divididos em três batalhões, que governavam os mestres de campo também índios João de Aguilera, João de Frutos e Alexandre de Aguirre. A retaguarda ocupavam os soldados espanhóis de tropas pagas do terço do mestre de campo Dom Francisco de Gusmão e Tajeda, da cidade de Cordova, ficando na de Buenos Aires dois mil homens de armas para a defender no caso de ficar o exército derrotado e de intentarem os portugueses surpresar a dita cidade, considerando-a menos presidiada. Todos marchavam a pé, porque discorria o mestre de campo Moxica, que empregada a artilharia da fortaleza, ao corpo montuoso e dilatado que formava o numero de 4.000 cavalos avulsos, podiam os índios e soldados espanhóis com presteza militar levar por assalto a dita fortaleza antes que a artilharia dela repetisse a sua segunda descarga. Esse discreto, ou néscio discurso que não é da nossa inteligência aplaudi-lo, ou condená-lo, se distraiu logo, quando os mestres de campo Aguilera, Frutos e Aguirre com os 3.000 índios dos seus terços, começaram a murmurar e a queixar-se de que os levavam a morrer e não a pelejar. E perguntados por que causa apreendiam tão infausto sucesso, responderam que sentindo os cavalos o eco da artilharia e as balas dela, haviam de voltar atrás com tão furioso ímpeto, que atropelariam e poriam em desordem os esquadrões. Julgou Moxica prudentíssimo este temor, e mandou que, retirados os cavalos , marchasse o exército. Chegou este à fortaleza pouco antes de romper a alva, quando a sentinela de um baluarte fez sinal com um tiro de canhão a cujo estrondo foi entrada a fortaleza pelos soldados de dom Ignacio Amandiu pelo mesmo baluarte, onde primeiro mataram a sentinela dele; e acudindo todo o corpo militar da praça avançaram pela parte da cidade os três mil índios dos terços dos mestres de campo já referidos.

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Travou-se entre portugueses e inimigos uma vigorosa disputa de armas assim de fogo, como de balas em funda, maças e outros instrumentos de guerra, de que vinham apetrechados os índios. Neste dia estava enfermo de cama e purgado o governador dom Manoel Lobo, porém as forças do corpo lhe não diminuíram o valor do ânimo. Em viva peleja sustentamos 3 horas largas este assalto com valor e obstinação portuguesa. Entre muitos se faz bem distinto Manoel Galvão, capitão da infantaria da praça do Rio de Janeiro, que montado à cavalo com a espada na mão, feria e matava animando a todos e reforçando por muitas partes os batalhões, até perder a vida. Imitou a seus altos espíritos sua mulher D........ que ao lado de seu marido movia a espada tão ligeira que parecia um raio, e continuou assim ainda depois de o ver morto até que teve a mesma sorte que a de seu esposo. É lástima não declarar-se o nome desta matrona. Perdemos a batalha e a praça, ficando muitos prisioneiros, entre os quais sabemos de dom Francisco Naper de Lancastre, o capitão Simão Farto com 12 soldados da sua companhia, os dois irmãos dom José e dom Luiz Rendon de Quebedo, que até no destino de serem prisioneiros tiveram a sorte de fazer fiel companhia ao governador dom Manoel Lobo, a quem acompanhavam desde a saída de S. Paulo, porque também ficou prisioneiro e foi conduzido para a cidade de Buenos Aires, e metido na mesma prisão em que se achava o tenente-general Jorge Soares de Macedo, e ambos foram mandados passar para a cidade de Cordova, onde se conservaram presos até 9 de Novembro do ano de 1681 em que foram soltos para assistirem a entrega e restituição da Nova Colônia; porém Macedo, querendo passar a Portugal, foi para a cidade de Lima, onde se embarcou nos galeões de Espanha, como consta da sua carta patente de mestre de campo e governador da praça de Santos.

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Dom José e Dom Luiz Rendon se deixaram ficar em Buenos Aires, depois que conseguiram a liberdade pelo trato provisional celebrado entre as duas coroas de Portugal e Castela, a respeito da restituição da cidade do Sacramento da Nova Colônia, que assinou em Lisboa, a 7 de Maio de 1681. Teve efeito esta restituiçãoentregando-se a dita cidade a Duarte Teixeira de Chaves que veio de Lisboa em 1682 com ordem régia para que, logo tomasse posse do governo da capitania do Rio de Janeiro, passasse a Nova Colônia para tomar entrega dela na forma do dito tratado.

Em Buenos Aires, com eleição igual as suas qualidades, casaram os dois irmãos Rendons, e se corresponderam com seu irmão dom Francisco Matheus Rendon em S. Paulo, cujas filhas foram pedidas para passarem àquela cidade a custa dos grandes cabedais que os tios possuíam, se as sobrinhas quisessem abraçar o estado de religiosas em um dos mosteiros daquela cidade. Se nela deixaram descendência, ignoramos."
 
 

§ 4.º

1-4 Dom Luiz Rendon de Quebedo, de quem já tratamos no § precedente juntamente com seu irmão.
 
 

§ 5.º

1-5 Dom Francisco Matheus Rendon, f.º do Cap. 1.º, casou-se em S. Paulo com Maria de Araujo, f.ª de Pedro Taques de Almeida, capitão-mor governador e alcaide-mor de S. Vicente e S. Paulo, e de Angela de Siqueira, V. 4.º pág. 264; faleceu em 1735 e teve: (C. O. de S. Paulo).

2-1 Pedro Taques de Almeida

2-2 Dom Francisco Taques Rendon

2-3 Maria de Araujo da Ascenção

2-4 Angela de Siqueira Rendon

2-5 Ignacia Francisca Rendon de Araujo

2-6 Custodia Paes de Araujo Rendon.
 
 

2-1 Pedro Taques de Almeida nascido em 1701, doutor, foi opositor distinto pelo merecimento entre os mais na universidade de Coimbra, foi entretanto injustamente preterido. Avançado já em ano resolveu procurar asilo numa ordem religiosa e fez-se beneditino, com o nome de frei Pedro da Conceição.

2-2 Dom Francisco Taques Rendon, segundo escreveu Pedro Taques, fez estudos da gramática latina e filosofia em S. Paulo, juntamente com seu irmão Pedro Taques n.º 2-1 supra; desprezou, entretanto, o progresso das letras para ir fazer companhia ao seu pai, dom Francisco Matheus Rendon, que assistia nas Minas Gerais.

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Recolheu-se depois a S. Paulo, onde sobressaiu por seus merecimentos de sangue e por suas prendas de educação, entre as quais se achava e da destreza em andar a cavalo. Foi destro no tirar das lanças e também nas escaramuças, para o que o ajudava a naturalidade de seu gênio, por força da qual nunca reparou em preço para deixar de possuir bons e excelentes cavalos. Casou-se com sua prima Maria de Almeida Lara. Sem geração.

2-3 Maria da Assumpção e Araujo, faleceu solteira de bexigas em 1762.

2-4 Angela de Siqueira Rendon, † em 1764, casou-se com seu parente capitão- mór Diogo de Toledo Lara, † em 1743, que foi regente das minas do Paranapanema, f.º de João de Toledo Castelhanos e de sua 1.ª mulher Maria de Lara. V. 5.º pág. 493. Teve os 5 f.ºs seguintes:

3-1 Cônego Antonio de Toledo Lara, que faleceu em 1783 em S. Paulo.

3-2 Maria Thereza de Araujo Rendon, casou-se em 1746 em S. Paulo com o mestre de campo Agostinho Delgado Arouche, natural de Araçariguama, f.º do sargento-mor Francisco de Nabo Freire, natural de Lagos, falecido em 1765 em Guaratinguetá, e de Anna Pires de Barros Leite. Com geração no V. 6.º pág. 535.

3-3 Anna de Toledo e Moraes, nascida em 1724.

3-4 Escholastica Francisca de Toledo, nascida em 1727.

3-5 Ursula Maria Luiza das Virgens, nascida em 1729.

2-5 Ignacia Francisca Xavier de Araujo, faleceu solteira em avançada idade.

2-6 Custodia Paes de Araujo Rendon, última f.ª do § 5.º, casou-se com o capitão Simão de Toledo e Almeida, seu parente, f.º de Floriano de Toledo Piza e de Antonia de Medeiros Cabral. Com geração no V. 5.º pág. 517.

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§ 6.º

1-6 Maria Cabral Rendon, natural da ilha grande, † em 1699 em S. Paulo, casou-se com Manoel Lopes de Medeiros, natural de S. Paulo, sargento-mor dos auxiliares do terço do mestre de campo Domingos da Silva Bueno, f.º do ouvidor Antonio Lopes de Medeiros e de Catharina de Unhatte. Com geração no V. 2.º pág. 14.
 
 

Cap. 2.º

Dom João Matheus Rendon, segundo escreveu Pedro Taques, casou-se no Rio de Janeiro com N...... de Azeredo Coutinho, da mais qualificada nobreza daquela capitania, por trazer sua origem do fidalgo Vasco Fernandes Coutinho que, tendo servido na Índia aos reis dom Manoel e dom João III desde 1511, recebeu deste monarca a doação de 50 léguas de terra para fundar uma capitania por carta passada em 1525. Efetivamente a fundou, e é a capitania do Espírito Santo, que teve por capital a vila de Vitória; teve com uma senhora ........ de Almada o f.º Vasco Fernandes Coutinho, o moço, que casou-se e deste matrimônio procedem os Coutinhos do Rio de Janeiro, que do Espírito Santo já veio aliada para esta cidade de S. Sebastião com os Azeredos, pois foi Marcos de Azeredo Coutinho, natural do Espírito Santo, o tronco da família de seus apelidos na dita cidade de S. Sebastião. Não descobrimos geração de dom João Matheus Rendon supra; porém sabemos que, enviuvando, tomou ordens sacras e faleceu de bexigas em Lisboa.
 
 

Cap. 3.º

Ignez de Ribeira f.ª do n.º 1, casou-se em S. Paulo com Vicente de Siqueira e Mendonça, f.º de Lourenço de Siqueira e de Margarida Rodrigues, V. 7.º pág. 505. Teve 8 f.ºs:

1-1 Innocencia, que casou-se em Minas Gerais.

1-2 Joana, que casou-se em Minas Gerais.

1-3 Maria, faleceu solteira no Rio de Janeiro.

1-4 Manoel de Siqueira Rendon, que casou-se no Rio de Janeiro com Brites da Fonseca Doria; 2.ª vez em 1693 em Taubaté com Maria Vieira da Maia, viúva de Miguel de Almeida e Cunha. V. 7.º pág. 348. Teve:

Da 1.ª 3.f.ºs:

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2-1 Joanna, que casou-se com Manoel Alves Fragoso dos Campos de Goitacazes.

2-2 Brites da Fonseca Doria, casada com Gregorio Nazianzeno.

2-3 Antonia, casou-se nas Minas Gerais.

Da 2.ª não descobrimos geração.

1-5 José de Siqueira Rendon, que casou-se no Rio de Janeiro com Maria da Fonseca Doria, irmã de Brites precedente. Teve:

2-1 Maria, que foi casada com Ignacio Ferreira Funchal.

2-2 Marianna, casada com João da Fonseca Coutinho.

2-3 Ignacio de Siqueira Rendon, faleceu solteiro.

1-6 Lourenço de Siqueira Furtado de Mendonça, capitão-mor da barra de Guaratiba do Rio de Janeiro, casou-se com Barbara da Fonseca Doria. Teve 4 f.ºs: 2-1 Salvador de Siqueira Rendon, que casou com Rosa Maria Caldas.

2-2 Fradique Rendon de Quebedo, capitão-mor da barra de Guaratiba.

2-3 Margarida de Luna, casou-se com José Corrêa Soares, natural do Rio de Janeiro f.º de Gaspar Corrêa e de Luzia de Aguilar, por esta neto de Martim Rodrigues Tenorio e de Magdalena Clemente Cabeça de Vaca, neste Tit. adiante.

2-4 Leonor de Siqueira Rendon, casou-se com Gaspar de Azedias Machado.

1-7 Antonio de Siqueira e Mendonça, casou-se com uma sobrinha do capitão-mor Manoel Pereira Ramos, senhor do engenho e freguesia de Marapicu.

1-8 João Matheus Rendon, último f.º do Cap. 3.º, era solteiro em 1759 no Rio de Janeiro.
 
 

Cap. 4º

Dom José Rendon, f.º do n.º 1, batizado em 1641 em S. Paulo, casou-se no Rio de Janeiro com uma irmã dos padres Francisco Frazão e Antonio de Alvarenga Mariz, ambos da companhia de Jesus. Sem geração.
 
 

Cap. 5º

Anna de Alarcão e Luna, gêmea com o Cap. 4.º precedente, passou na companhia de seu pai para o Rio de Janeiro em 1655 (o qual fez assento no seu engenho de açúcar de Itacuruçá, levando também seus enteados Fernando e João), e lá casou com Ignacio de Andrade Souto Maior, senhor da casa de Jerecinó com sete engenhos, o qual foi capitão e muitas vezes vereador da mesma cidade, f.º de Innocencio de Andrade Machado, natural da ilha Terceira (legítimo descendente da família de seu apelido), e de Helena de Souto-Maior, chamada a viúva da Pedra, por esta neto de Belchior da Ponte Maciel, da família dos Pontes Cardoso da mesma ilha. Teve:

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1-1 José de Andrada Souto-Maior § 1.º

1-2 Helena de Andrada Souto-Maior § 2.º
 
 

§ 1.º

1-1 José de Andrada Souto-Maior, natural do Rio de Janeiro, senhor da casa de Jerecinó que fora de seus pais, casou com sua prima Anna de Araujo e Andrada, f.ª de Francisco de Araujo de Andrada e de Maria se Souro, f.ª de João de Souro e neta por este de Belchior de Andrada e Araujo, natural da vila de Arcos e capitão no Rio de Janeiro, e de Maria Cardoso de Souto-Maior (irmã inteira de Helena de Souto-Maior já mencionada). Teve:

2-1 Ignacio de Andrada Souto-Maior.

2-2 Maria de Andrada Souto-Maior, que casou no Rio de Janeiro com Mathias de Castro Moraes, coronel de cavalaria, fidalgo da casa real, f.º de Gregorio de Castro Moraes, mestre de campo no Rio de Janeiro, onde faleceu na ocasião em que os franceses a invadiram. Teve:

3-1 José de Moraes Castro Pimentel, que faleceu solteiro em viagem de Paracatu para a Bahia, onde foi sepultado na igreja do mosteiro de São Bento. Sem geração.

3-2 Gregório de Moraes Castro Pimentel, que foi ajudante de infantaria de um dos regimentos da guarnição do Rio de Janeiro.

2-3 Anna de Alarcão e Luna, casou-se no Rio de Janeiro com Francisco Fernando Camello Pinto de Miranda, moço da casa real, natural da cidade do Porto, f.º de Ayres Pinto de Miranda, moço da casa real, e neto de Fernão Camello de Miranda, senhor da casa de Villar do Paraíso. Teve:
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3-1 Ayres Pinto Camello de Miranda, tenente de cavalaria, moço fidalgo da casa real.

3-2 Joanna de Miranda, estava ajustada para casar com seu primo Gregorio de Moraes n.º 3-2 de 2-2 supra.

3-3 N..........

2-4 Josepha, era solteira.

2-5 Luiza, era solteira.

2-6 Francisco de Araujo e Andrada.
 
 

§ 2.º

1-2 Helena de Andrada Souto Maior, casou no Rio de Janeiro com Clemente Pereira de Azeredo Coutinho, natural dessa cidade, senhor dos engenhos de Itaúna e Guaxindiba, capitão-mor e vereador da câmara da mesma cidade, f.º de Domingos Pereira da Silva, capitão de infantaria paga da mesma praça, e de Paula Rangel. Faleceu Clemente Pereira em 1739 no estado de viúvo e teve os f.ºs:

2-1 Anna de Alarcão e Luna, casada com o sargento-mor Bento Rodrigues de Andrada. Sem geração.

2-2 Helena de Andrada Souto Maior, batizada em 1700 na freguesia de N. Senhora da Piedade de Magé, casou no Rio de Janeiro com Manoel Pereira Ramos em 1721, natural do Rio de Janeiro, capitão-mor, de um dos distritos da mesma cidade, vereador da câmara dela e senhor dos engenhos de Marapicu, Cabuçu, Utaúna, do Gama e outros, f.º de Thomé Alvares de Couto Moreira e de Michaela Pereira de Faria e Lemos, n. p. de Thomé Alves Moreira de Couto, que nascido na vila de Moreira, bisp. do Porto, casou no Balliado de Lessa, de onde passou ao Brasil por uma morte que fez; n. m. de Francisco de Lemos de Faria, natural da ilha do Faial, de onde veio ao Rio de Janeiro, e Izabel Pereira de Carvalho, por esta bisn. de Gaspar Pereira de Carvalho e Jardim, senhor do engenho de Pinditiba. Teve:

3-1 João Pereira Ramos de Azevedo Coutinho, nascido em 1722, foi cavaleiro da ordem de Cristo e opositor em cânones na universidade de Coimbra.

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3-2 Michaela Joaquina Pereira de Faria e Lemos, batizada em 1726, foi religiosa no convento de Narvilha junto a Lisboa.

3-3 Manoel Pereira Ramos de Lemos e Faria, batizado em 1728, cavaleiro da ordem de Cristo em 1746.

3-4 Helena Josepha de Andrada Souto Maior, religiosa no convento supra em 1746.

3-5 Clemente Pereira de Azeredo Coutinho e Mello, batizado em 1731.

3-6 Ignacio de Andrada Souto Maior, batizado em 1733.

3-7 Francisco de Lemos de Faria Pereira, batizado em 1735.

3-8 Thomé Alves Pereira do Couto Moreira, falecido.

3-9 Anna Rosaura Rita de Alarcão e Luna, batizada em 1737.

3-10 Maria de Mello Coutinho e Azeredo, batizada em 1739.

3-11 José Rendon de Luna Quebedo Alarcão, batizado em 1743.
 
 

N.º 2

Dom Francisco Rendon de Quebedo. A seu respeito escreveu Pedro Taques:

"Acabada a guerra contra os holandeses na Bahia, passou a S. Paulo, onde casou com Anna de Ribeira f.ª do capitão-mor Amador Bueno e de Bernarda Luiz do n.º 1 retro.

Foi este fidalgo dom Francisco Rendon juiz de órfãos proprietário em S. Paulo, onde sempre teve as rédeas do governo da republica e da milícia. Pelo seu grande respeito, atividade e zelo do real serviço foi encarregado para levantar em S. Paulo companhias de picas espanholas , com 40 escudos de soldo por mês os capitães, para restauração de Pernambuco e armada que na Bahia preparava o conde da Torre para passar com ele contra os holandeses.

Deu causa para esta recruta de soldados paulistas o mau sucesso que teve o conde da Torre quando, com poderosa armada, saiu de Lisboa para restaurar Pernambuco, e se recolheu a Bahia, onde então tinha as rédeas do governo geral do Estado Pedro da Silva.

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Havia o conde da Torre saído de Lisboa nos últimos de Outubro de 1638 com armada para restaurar Pernambuco do poder dos holandeses e do seu general o conde de Nassau, tão poderosa nos vasos como crescida no portante dos navios, galeões, fragatas de guerra naus grossas, copia grande de embarcações ordinárias com instrumentos bélicos, artilharia etc. Era a frota mais poderosa que até aquele tempo sulcara os mares da América.

Em 10 de Janeiro de 1639 se avistou do Arrecife esta pomposa armada com assombro dos inimigos e alvoroço dos pernambucanos, que vendo aquele poder pelo vulto dos vasos, encheram de discreta confiança a sua expectação. O holandês, parecendo-lhe que o desengano do golpe lhe chegava sem tempo para o reparo, olhava para o que temia e para o que necessitava. Via as suas praças desmanteladas, as suas fortificações caídas, e sustentados só na confiança da paz em lembrança das vitórias. Considerava se sitiado no Arrecife, e sem aquela provisão de mantimentos e munições precisas para sustentar um cerco. Os soldados tão poucos para suas fortificações que, reconduzidos do sertão e chamados das fortalezas, não faziam corpo que pudesse avultar à vista do nosso poder. Olhava para o que tinha no mar e só via 5 naus que estavam à carga. Cotejava o seu estado e nossa injuria e não achava em que pudesse fundar a menor confiança para se opor a resistência, e as sentava consigo o ser chegado o fim do império holandês em aquela porção da América. Porém quando o conde de Nassau se considerava perdido, se viu respirar desabafado; porque sem tomar pano foi navegando a armada até dobrar o cabo de Santo Agostinho, e ancorar na enseada da Bahia. Em quanto nela de deteve quase um ano, se preveniu o conde de Nassau, e o da Torre dom Fernando Mascarenhas de capitães mais destros nos caminhos e veredas dos recôncavos de Pernambuco, para que com a gente da sua disciplina penetrassem as matas e delas assaltassem com súbitas armas os quartéis e habitações holandeses. Para segurança deste premeditado projeto mandou o conde da Torre ordem a Salvador Corrêa de Sá e Benevides, governador alcaide-mor do Rio de Janeiro para fazer levantar na capitania de S. Paulo, companhias de infantaria de picas espanholas, cada uma com 80 paulistas, como já dissemos, cujos cabos e oficiais lhe seriam confirmadas as parentes, pelo dito conde, chegados que fossem à Bahia para se passarem na armada, em que havia de ir restaurar Pernambuco.

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Esta importante recruta se fiou de dom Francisco Rendon de Quebedo, que com atividade e zelo do real serviço conseguiu, elegendo capitão e mais oficiais as pessoas de maior confiança e valor. É lástima não descobrirmos documentos que nos certifiquem de todos os capitães que nesta importante ocasião tiveram a honra do real serviço! Apenas encontramos a certeza de que do corpo militar paulistano foram capitães da infantaria Valentim de Barros e seu irmão Luiz Pedroso de Barros, Antônio Raposo Tavares e seu irmão Diogo da Costa Tavares, Manoel Fernandes de Abreu, e João Paes Floriam(1). No porto de Santos, debaixo do comando do capitão dom Francisco Randon de Quebedo, embarcaram os capitães, seus oficiais e soldados, com grande número de índios frecheiros e arcabuzeiros para a Bahia, onde foram recebidos os capitães com benigno agasalho pelo conde da Torre, que lhes mandou passar suas patentes, pagando-se a todos os soldados desde o dia que tinha destacado de S. Paulo. Do Rio de Janeiro fez regresso o capitão Rendon para S. Paulo, ficando entregue de todo o corpo militar o governador Salvador Corrêa de Sá. Estas companhias foram incorporadas na Bahia no terço do mestre de campo Luiz Barbalho Bezerra.

No fim do ano de 1639 saiu da Bahia o conde da Torre, deixando entregue o governo a dom Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos (depois vice rei da Índia e o 2.º do Estado do Brasil em 1663) e com vento em popa navegou a armada até avistar a barra grande distante de Pernambuco para parte do Sul 25 léguas: ali se advertiu a conveniência do porto para o intento de lançar-se a gente em terra debaixo do comando de seu mestre de campo o Barbalho, como tinha premeditado na Bahia o conde da Torre, general desta armada, e feito antecedentes avisos deste seu projeto aos de Pernambuco: porém não se admitiu o conselho pela distancia. A vista de Tamandaré 17 léguas do Arrecife se fez o mesmo requerimento e foi reprovado, não sabemos se por desprezo. Já nesta altura experimentava a frota a veemência com que corriam as águas, que, ajudadas da fúria dos ventos fizeram inútil todo o governo do leme e do pano.

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(1) Também fez parte como capitão Antonio da Cunha de Abreu.

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O inimigo holandês que com destreza se sabia aproveitar das ocasiões que lhe oferecia a fortuna mandou largar pano a 20 fragatas e alguns patachos (já de antes prevenidos para este fim) que saíram do porto com a vantagem de navegarem a barlavento dos nossos: caíram sobre a capitânia com ousada resolução 3 fragatas, intentando abalroá-la (mas) brevemente saíram da empresa ao mesmo tempo castigados e arrependidos: a primeira despedaçada tragaram as ondas; e as (outras) duas foram desarvoradas e desfeitas, de sorte que, apesar da memória, as desconhecia a vista. Abonançou o vento por espaço de 3 horas, em cujo tempo puderam os nossos navios ordenar-se para a batalha, que a temeu o contrário, e valeu-se do desvio ajudado da fúria com que se repetiu a tempestade, que a uns e a outros não deixou mais salvação e de obedecer aos mares. Levada das ondas desgarrou a frota portuguesa para as Índias de Espanha, onde primeiro a levou o destino do que a ordem que el-rel tinha dado ao conde da Torre para que concluída a empresa de Pernambuco tomasse as Índias e comboiasse os galeões da frota de S. Lucas. As naus holandesas, favorecidas do vento, voltaram para o Arrecife; embandeirada de negro entrou a sua capitânia em cujo luto se amortalhou toda a alegria tão custosa pela perda, como pela mágoa com que dela se tiraram os corpos dos mortos, entre os quais vinha o do seu general.

Este infeliz sucesso da nossa armada fez acordar aos capitães do terço do mestre de campo Luiz Barbalho Bezerra e vigilante cautela com que agora o conde de Nassau poderia intentar ir sobre a Bahia, reconhecendo a falta das forças militares, que se desgarrava na armada, que seguia para as Índias de Castela; e propuseram ao conde da Torre a necessária providência e socorro que devia deixar em terra em qualquer dos portos daquela costa de onde pudessem marchar pelo sertão para a Bahia. Instava a importância desta resolução e no porto do Touro, 14 léguas do Rio Grande para o Norte, deixou a armada ao mestre de campo Barbalho com 1.300 infantes, em que entravam os capitães, oficiais e soldados paulistas, e os governadores dom Antonio Felippe Camarão e Henrique Dias este dos crioulos e minas, e aquele dos índios.

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Havia de ser a marcha pelo interior do mato, e em parte por entre a barbaridade dos índios do sertão, topando em muitas com armas do inimigos holandeses, e em todas sem provisão nem esperança de socorro humano com distância de quase 300 léguas até a cidade da Bahia, cujas dificuldades eram superiores aos mais ousados corações; e só o de cabos tão destemido e que já tinham o caráter de bons sertanistas, havendo conquistado muitas e diversas nações bárbaras dos sertões de S. Paulo e Índias de Espanha nas províncias do Paraguai até o reino do Peru, pôde intentar e vencer semelhante empresa, que ainda depois de conseguida se fez duvidosa. Os transes desta jornada vimos compendiados no cartório da provedoria da fazenda de Santos, no liv. de registros n.º 4 tit. 1641, na patente de ajudante de João Martins Esturiano, um dos soldados paulistas que teve a honra de servir em uma das companhias da leva de S. Paulo, e desta patente consta o seguinte sucesso:

Parte de um deserto era o porto de Aguassú junto ao do Touro, onde a armada deixou ao mestre de campo Barbalho com a gente já referida no dia 7 de Fevereiro de 1640, sem mais víveres que os que cada um dos soldados pôde tirar na sua mochila: falta que, considerada em semelhante lugar, esta acusando a determinação, não só de temerária, se não de louca, ficando a livrança dos perigos à contingência de milagres: porém aquele calor de portugueses, sempre igual no desprezo da vida pelas melhoras da pátria, nada mais lhe deixava ver que a constância, a lealdade e o serviço do rei. Todos se alentavam por estes briosos estímulos, e pelo alentado coração do seu mestre de campo Barbalho, que então lhes fez uma discreta e advertida ponderação lembrando-lhes: Que o motivo que os tirara a uns da Bahia e a outros de S. Paulo, deixando todos a pátria, os lançara agora naquela praia, por ficar infrutuosa a restauração de Pernambuco, e se voltavam para a defesa da Bahia; que no mau sucesso da armada tiveram parte os elementos, e não os inimigos; e que nesta jornada tinham de pelejar com os inimigos e com os elementos, estes armados dos rigores do tempo, e aqueles revestidos da cólera do ódio; que tudo se estribados na causa, alentassem a confiança, por ser certo que não falta Deus com auxílios a quem lhe dedica obséquios; que os poderia acobardar a falta de mantimentos, se já não estivessem bem acostumados com as agrestes frutas dos sertões incultos, com o mel silvestre de suas abelhas, com as amêndoas das variedades dos cocos do matos, com os palmitos doces e amargosos, e com as raízes da plantas conhecidas capazes de digestão: e porque, onde se contrasta o maior perigo, se alcança a maior glória, era de parecer que na marcha se buscasse o povoado, no qual poderiam conseguir remédio para a fome e aumento para a fama, que sempre foi mais grata a quem vencia homens, que a quem mata feras; e que quando o holandês os procurasse poderoso, então se aproveitariam da retirada com a vantagem do conhecimento de penetrar sertões, que os fazia superior as forças e numero dos soldados inimigos.

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Com esta bem advertida ponderação formou o mestre de campo Barbalho e sua gente e começou a marcha, levando diante do seu esquadrão descobridores para as cidades, e guias para as veredas, com ordem que todos os cavalos e bois que descobrissem, os recolhessem para o sustento e para o serviço. Com saudosa mágoa perderam de vista as ultimas vozes da armada que navegava arrasada em popa. Dos moradores que encontravam recebiam os soldados de Barbalho o sustento que voluntariamente davam, compadecidos de sua necessidade. Das fazendas do inimigo mandava Barbalho tomar o necessário e queimar o restante, sem que a espada deixasse vida que pudesse chorar a perda. No distrito do Rio Grande acharam ao seu governador chamado Gusmão, e destruídas as suas armas, o levaram cativo, com muitos flamengos e índios seus confederados, até a Bahia.

Na vila de Guayana, onde chegaram pelas 2 horas depois da meia noite, deram um assalto ao inimigo e lhe degolaram 530 holandeses que tinha o presidio entrando nesse numero o deu governador Alexandre Ricardo e outros oficiais de estimação; e os que deste conflito escaparam foram perseguidos ao romper da alva, e todos acabaram na casa forte, onde se haviam refugiado.

Chegando a mata do Brasil, onde se alojaram e, tocando na retaguarda a inimiga arma, foi investida de uma companhia volante que matando a muitos, escaparam outros com vergonhosa fugida, largando armas, munições e petrechos, de que os nossos se aproveitaram .

Em outras muitas partes encontraram inimigos em desigual número que foram todos destruídos com igual sorte. Em nada era dissemelhante a dos índios rebelados, em as quais a entidade da culpa não deixava ver a distinção da natureza.

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Chegou ao Arrecife primeiro a notícia da perda que a da marcha e o impaciente Nassau fez sair ao general Marfez com 3000 soldados em três terços com instrução de que a todo risco seguisse e perseguisse a Barbalho até o destruir e a sua gente. A este tempo já o mestre de campo deixava atrás o distrito de Pernambuco, e dele tinha agregado a si não poucos moradores com suas famílias, que receosos da vingança que era sua inocência havia de executar a tirania, trocavam o cativeiro da pátria pela liberdade do desterro. Informando o valoroso Barbalho do poder com que o seguia o holandês lhe escondeu a marcha: por muito dias penetrou o interior do mato com tanta moléstia, que a força de braço se ia abrindo caminho. Passou o rio de S. Francisco, e da parte do sul fez alto para descanso e alívio de tão dilatada jornada. A nossa vista parou o inimigo que o seguia, temendo na passagem o destroço. Passados alguns dias continuou Barbalho a marcha, e cheia de espanto a cidade da Bahia, quando entraram nela, não cessou em muitos dias de encarecer o muito que o mestre de campo Luiz Barbalho Bezerra com seus capitães ganharam de glória e adquiriram de fama. O esquadrão inimigo voltou a marcha para o Arrecife e a cólera contra os pobres moradores, matando e destruindo tudo quanto topou até Pernambuco.

Desta armada e do que obraram os soldados das companhias do mestre de campo Luiz Barbalho Bezerra, trata o livro - Castrioto Lusitano - e muito melhor os autos de justificação de serviços do capitão Valentim de Barros e de seu irmão o capitão Luiz Pedroso de Barros, processados na vila de S. Vicente em 1643, sendo escrivão Antonio Madureira Salvadores, também da dita vila, sendo seus juiz ordinário dela Pedro de Souza Muniz; no serviço do grande João Paes Floriam registrados na nota do tabelião de Mogi das Cruzes, e na patente de ajudante de João Martins Esturiano já mencionada."

Dom Francisco Rendon, depois de residir por muitos anos em S. Paulo, passou a morar na ilha Grande de Angra dos Reis, onde em 1665 requereu uma sesmaria que lhe foi concedida, atentos os seus serviços.

Teve naturais de S. Paulo 4 f.ªs :

Cap. 1.º Magdalena Clemente Cabeça de Vaca.

Cap. 2.º Bernarda de Alarcão e Luna

Cap. 3.º Catharina

Cap. 4º Francisca

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Cap. 1.º

Magdalena Clemente Cabeça de Vaca, casou-se em 1642 em S. Paulo com Martim Rodrigues Tenorio de Aguilar, f.º do capitão João Paes e de Suzana Rodrigues. Faleceu Martim Rodrigues em 1654 em S. Paulo, com geração no V. 4.º pág. 504; ali não se menciona a f.ª que Pedro Taques diz que se casado no Rio de Janeiro com Gaspar Corrêa pois não consta do inventário f.ª alguma com esse nome.
 
 

Cap. 2.º

Bernarda de Alarcão e Luna foi casada com Fructuoso do Rego e Castro, natural de Pernambuco, e faleceu em 1683 em S. Paulo e teve os 3 f.ºs:

1-1 Angela de Castro do Rego, que faleceu em 1706 e foi casada com o capitão Antonio Pacheco Gatto, f.º de Manoel Pacheco Gatto e de Anna da Veiga, V. 4º pág....., ali o f.º único.

1-2 Anna de Castro e Quebedo, foi casada com Salvador Bicudo de Mendonça, natural de S. Paulo, ali falecido em 1697 com testamento em que declarou não ter consumado o matrimônio por achaques que tinha.

1-3 Cosme de Rego e Castro de Alarcão faleceu em 1731 de bexigas, estando habilitado para a carreira clerical.
 
 

Cap. 3.º

Catharina
 
 

Cap. 4.º

Francisca
 
 

N.º 3

Dom José Rendon de Quebedo, segundo escreveu Taques , veio de Madri ao Brasil 1640 e fez seu assento no Rio de Janeiro, onde em 1651 tinha terras em Juriahi e pediu outras nas serras de Jerecinó e Marapicu que lhe foram concedidas pelo capitão-mor João Blau, loco-tenente de condessa de Vimiero Dona Marianna de Sousa Guerra, denotaria da capitania de S. Vicente e S. Paulo.

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Casou dom José Rendon do Rio de Janeiro com Suzanna Peixoto, que era viúva, senhora do engenho chamado de Fumaça de Hirajá, que o trocou por outro que possuía em Itacuruçá o governador Salvador Corrêa de Sá e Benevides. Esta senhora foi mãe de Francisco de Lemos, que faleceu em 1680. Neste engenho de Itacuruçá se estabeleceu dom José Rendon, ficando ele então conhecido pelo nome de seu novo proprietário o dito Rendon. Teve, naturais da ilha Grande de Angra dos Reis, os 6 f.ºs seguintes:

Cap. 1.º Theodora

Cap. 2.º Anna

Cap. 3.º Francisca

Cap. 4.º ...............

Cap. 5.º Maria de Alarcão

Cap. 6.º Dom Pedro Rendon e Luna

As três primeiras tomaram o hábito de carmelitas e nesse estado faleceram no convento da ilha Grande.
 
 

Cap. 4.º

N ......... casou com Fulano Lobo e teve o f.º:

1-1 Antonio Lobo de Alarcão, que casou com Ignacia Telles, f.ª de Francisco Telles. Com geração.
 
 
Cap. 5.º

Maria de Alarcão casou com Damaso Pimenta Gago de Oliveira, natural da ilha Grande, descendente do fidalgo da casa real João Pimenta de Carvalho, morador em 1620 na ilha Grande, que foi capitão-mor e ouvidor loco-tenente da condessa de Vimeiro, o qual casou na família dos Oliveiras Gagos, de Santos, da qual dois irmãos se passaram àquela ilha e ali deixaram descendentes desse apelido. Teve 3 f.ºs:

1-1 José Pimenta Rendon § 1.º

1-2 João Pimenta Gago de Alarcão § 2.º

1-3 Maria Pimenta § 3.º
 
 

§ 1.º

1-1 José Pimenta Rendon, faleceu assassinado à facadas no Itacuruçá.
 
 

§ 2.º

1-2 João Pimenta Gago de Alarcão, faleceu solteiro de bexigas.

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§ 3.º

1-3 Maria Pimenta foi casada com o capitão Jacintho de Sá Barbosa, que teve lavras minerais no arraial velho junto ao Sabará, que foi irmão do coronel Antonio de Sá Barbosa, que teve grandes lavras na Roça Grande, freguesia de Santo Antonio, e que faleceu sem geração; irmão de Maria Coutinho, que casou no Rio de Janeiro com o capitão João Ferreira Coutinho, com quem se passou às Minas Gerais, Roça Grande, e tiveram filhos. Teve:

2-1 Antonio de Sá Barbosa, que casou com José Pacheco Viegas, que em 1759 morava na ilha Grande em seu engenho de açúcar.

2-2 Bento de Sá Barbosa, que foi casado com... f.ª do coronel Faustino Ferreira da Silva, natural de Vianna, e de Maria da Fonseca Romeiro Velho Cabral, natural de Pindamonhangaba. Foi Bento de Sá Barbosa morador em Sabará onde faleceu.
 
 

Cap. 6.º

Dom Pedro Rendon e Luna foi clérigo de S. Pedro.
 
 

N.º 4

Dom Pedro Matheus Rendon Cabeça de Vaca. Segundo escreveu Pedro Taques: "também se achou na Bahia de Todos os Santos, e acabada a guerra contra os holandeses passou a S. Paulo com seus irmãos. Não casou este fidalgo; ou se recolheu ao reino de Castela, ou faleceu solteiro. E certo que, depois de estar em S. Paulo muitos anos, se passou para a capitania do Rio de Janeiro, onde todos os irmãos se ajuntaram; e, se casou, foi nesta capitania e não temos certeza alguma seu estado. A noticia difundida dos antigos, que se conserva na memória dos modernos, assevera que se recolhera para a pátria, a cidade de Coria, por ter cessado a causa que a ele e a seus irmãos tinha obrigado a embarcarem para o Brasil na armada com o general dom Fradique de Toledo Osorio, pelo crime de haverem morto à facadas a um geral dos franciscanos em Castela, estando todos em uma quinta divertindo-se; e fora acto primo primus este sacrílego atentado contra o padre geral.

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Não encontramos documento algum que verifique esta constante notícia, que a comunicou em S. Paulo o revdmo. padre mestre José de Mascarenhas da companhia de Jesus, que foi um grande indagador de memórias antigas, e único genealógico das famílias da capitania do Rio de Janeiro, S. Vicente e S. Paulo."


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